A vida social impõe inúmeros riscos ao indivíduo. Não há apenas a proteção e o bem comum dentro do contrato da sociedade. Inevitavelmente, surgem também muitos perigos, tal como foi salientado por diferentes escolas de teóricos sociais, a exemplo de Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 1712-1778).
A convivência social, por isso, exige da pessoa humana triunfos quase que diários sobre a preguiça e o medo. Ora, tratam-se de vitórias sobre si próprio: “Chama-se coragem o fato de um homem vencer a si mesmo”, como diz Tomás de Aquino (Itália, 1225-1274) ao citar Santo Ambrósio.
A vida social, então, é essa casa com muitos muros que precisam ser transpostos. Há desafios e, inclusive, quase nunca falta alguma violência nas famílias, nas empresas, no trânsito, etc. Em meio a tal inevitável condição da vida coletiva, não é sábio, saudável nem útil que o indivíduo procure acomodar-se, sentar-se em uma tentativa de superproteção ou de negação dos obstáculos que estão por toda parte.
Sentada ou prostrada, a pessoa que sucumbe à preguiça e ao medo agrava assim ainda mais a sua circunstância. A omissão confunde a perspectiva diante da vida e faz imaginar que são até maiores as paredes e portas fechadas que cercam a subjetividade.
O temor turva o olhar. A covardia apequena o sujeito, confunde-o. Por isso, a saída desse conflito depende, antes de qualquer grandeza diante do mundo, de uma esperançosa procura por vencer-se a si próprio. Ou seja, primeiro é necessário agir consigo: saltar por sobre a indolência e abrir espaço em meio ao terror íntimo. Depois, uma vez que “a esperança é a consequência da ação”, como afirma Mangabeira Unger (Brasil, 1947), então a esperança de derrubar os muros que precisam cair enfim surgirá no indivíduo para fortalece-lo.
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