sexta-feira, 25 de novembro de 2022

José Bonifácio e a independência

Em 7 de Setembro, de 1822, D. Pedro I fez história ao proclamar a independência do Brasil. Mas em seu apoio, nem sempre lembrado, estava José Bonifácio. E foi fundamental a atuação do intelectual e político brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838).

Além de influente durante a Proclamação da Independência, José Bonifácio tinha uma outra característica marcante. Já naquele 1822, ele fazia críticas à escravidão que ocorria em terras brasileiras. Apesar da sua posição, no entanto, a abolição oficial da escravatura aconteceria muito mais tarde, em 1888 – e até hoje inúmeros brasileiros ainda precisam lutar para serem respeitados em sua liberdade mais básica.

As críticas à escravidão feitas por Bonifácio, em meio àqueles anos agitados da independência recém-proclamada, refletem a nova ética que estava ganhando força na Europa. Formalmente, a filosofia registra uma revolucionária oposição ao escravismo com pensadores como o genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que, na sua obra Contrato social, dedica capítulo próprio para afirmar que: “o direito de escravidão é nulo, não apenas porque é ilegítimo, mas também porque é absurdo [...] visto que nenhum homem tem qualquer autoridade natural sobre o seu semelhante [...], pois a liberdade é a qualidade que caracteriza o que é um ser humano”.

Tal inovadora ética iluminista foi útil para fazer oposição à escravidão e também para legitimar inúmeras mudanças e revoluções políticas que ocorreram nesses séculos XVIII e XIX, inclusive no Brasil. Ou seja, José Bonifácio tanto quis a independência brasileira quanto não se fechou ao progresso ético e jurídico que estava ocorrendo fora do Brasil. Trata-se de uma postura intelectualmente madura e democrática, a de querer a liberdade para si e também para os outros, querer a independência em relação a Portugal sem, por isso, fechar os olhos para os Direitos Humanos e o republicanismo que tinham começado a ganhar corpo especialmente em países europeus, a exemplo da Revolução Francesa, de 1789.

Para celebrar os duzentos anos da Proclamação da Independência, a educação brasileira atual poderia lembrar com mais atenção da postura de José Bonifácio, a sua participação na libertação do Brasil e, ao mesmo tempo, a sua crítica à falta de liberdade que ainda acometia internamente a muitas pessoas escravizadas em solo brasileiro. Ora, essa é a premissa básica do pacto social sintetizado por Rousseau. A vontade geral do povo é legítima quando afirma aquilo que, na verdade, todos os seres humanos querem: as suas liberdade, vida e dignidade respeitadas.


Artigo disponível em:

https://sampi.net.br/bauru/noticias/2058903/tribuna_do_leitor/2022/09/bonifacio-e-a-independencia

Qual é a relação entre ciência e poder?

O Brasil é o 13° maior produtor de conhecimento científico do mundo, segundo dados recentes, de 2021, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Seria possível pensar, contemporaneamente, em um país muito poderoso, mas sem um grande investimento em ciência? É possível imaginar a expansão europeia ou chinesa sem a sua potente indústria? Acaso os Estados Unidos seriam tão imponentes sem os recursos destinados às suas armas, à sua tecnologia, às suas tradicionais universidades de Harvard, MIT, Stanford?

"O mesmo método científico que pode levar a uma dominação cada vez maior sobre a natureza proporciona, igualmente, uma dominação cada vez mais eficiente do homem sobre o próprio homem", afirma Jürgen Habermas, teórico nascido em 1929, em Düsseldorf, Alemanha, no livro denominado Técnica e ciência como ideologia (capítulo 2, parte I). Há uma relação direta entre a ciência e o poder. Entre o saber acadêmico e o poder político. Deste modo, os países que conquistam maior tecnologia ficam melhor instrumentalizados para dominar, explorar e cultivar a natureza; e com a mesma invenção técnica e científica, tais países conseguem imporem-se econômica e militarmente sobre outros povos.

Não é preciso, então, que haja necessariamente uma guerra para que um determinado país domine a outro. Tal como uma pessoa treinada e armada não tem que agredir fisicamente a uma outra pessoa desarmada para, assim, demonstrar o seu poder de controle. Basta que um país mantenha-se na vanguarda científica, educacional e tecnológica para que o seu poder (em grande medida o seu poder cultural, inclusive) mantenha-se entre os que mais se impõem mundo afora.

Ora, se há poder político e simbólico atrelado ao poder racional e acadêmico, do mesmo modo é verdade que há desempoderamento e fragilização decorrentes do analfabetismo e do negacionismo científico. A ignorância fragiliza um povo e facilita que ele seja explorado, escravizado ou assassinado. Por isso, de um lado há o historicamente conhecido perigo da radicalização cientificista – um risco que pode levar a posturas ditatoriais, imperialistas, e culminar em bombas atômicas e câmaras de gás para genocídio –, de outro lado, enfim, importa que o Brasil lembre-se sempre do valor estratégico, político, econômico e militar, do investimento em ciência, tecnologia e educação.


Artigo disponível em:

https://sampi.net.br/bauru/noticias/2672024/articulistas/2022/12/qual-e-a-relacao-entre-ciencia-e-poder

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